- Margô Gomes de Oliveira Karnikowski
- Suzana Schwerz Funghetto
- Mauro Karnikowski
- Alcindo Antônio Ferla
RESUMO:
Pesquisas que envolvam o desenvolvimento tecnológico e social dos países se constituem em estratégia fundamental para o envelhecimento ativo, compreendido como o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas. Estudiosos da gerontologia realizam pesquisas e participam de debates nacionais e internacionais na buscar de otimizar as ações que possam contribuir com as diversas dimensões envolvidas no envelhecer e sua repercussão nas sociedades. O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial embora ocorra de forma bastante impactante nos países em desenvolvimento, onde o crescimento da população idosa aconteceu de forma acelerada, sem que houvesse uma preparação para as mudanças reveladas por esta realidade e sem que as políticas necessárias para atender as demandas dessa faixa etária pudessem ser de fato implementadas. As violências contra os idosos são muito abrangentes e disseminadas no Brasil, evidenciando-se em abusos físicos, psicológicos, sexuais, financeiros e em negligências que não chegam aos serviços de saúde, ficam ‘naturalizadas’, sobretudo, no cotidiano das relações familiares e nas formas de negligência social e das políticas públicas. Um dos setores mais fortemente atingidos é o da saúde o que requer medidas urgentes quanto as demandas por um sistema de cuidado adequado e efetivo a esta faixa etária. Neste cenário, surge a Rede Internacional de Pesquisas em Gerontologia e Sistemas de Cuidado no Envelhecimento (RedeGeronto) que possui como objetivo congregar esforços para desenvolver e incentivar pesquisas bem como divulgar iniciativas que promovam a qualidade de vida, tendo como foco o envelhecimento humano.
Desde a criação do Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento em 1982, vários países veem buscando implementar ações com o objetivo de garantir a segurança econômica e social das pessoas idosas, bem como garantir a oportunidade para que essas pessoas contribuam para o desenvolvimento de seus países. No entanto, a realidade do envelhecer está muito longe de se concretizar da forma que foi proposta, sobretudo nos países em desenvolvimentos e naqueles mais pobres. As desigualdades sociais restringem o acesso das pessoas idosas as tecnologias e inovações, dificultando o aporte aos cuidados necessários preconizados para o envelhecimento digno e ativo. Assim, as pessoas não percebam o seu potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida, e a participação na sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades ficam bastante prejudicada, afetando de forma cruel o acesso a um sistema de proteção, segurança e cuidados adequados. O termo envelhecimento “ativo” refere-se à participação contínua dos idosos nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho. Sem o cumprimento das diretrizes que garantem os direitos fundamentais do ser humano ao longo do percurso de sua vida, a possibilidade de aumentar a expectativa de um viver saudável e com qualidade para quem envelhece, se torna um sonho para muitos, ainda mais longínquo para aqueles idosos frágeis, fisicamente incapacitados e que requerem cuidados. Associado a desigualdade social encontra-se a violência contra a pessoa idosa, principalmente praticada no seio das famílias. Estes fatos demonstram o despreparo das famílias, do estado e da sociedade em promover o convívio saudável e acolhedor, independentemente da idade.
Para além destas questões encontram-se as fragilidades biológicas impostas pela idade e as possibilidades humanas negligenciadas nesta fase da vida. O setor saúde necessita aporte humano e financeiro, bem como acesso as tecnologias e inovações que possam superar as dificuldades hoje encontradas. O trabalho em saúde, particularmente na atenção básica, é complexo, mobiliza um conjunto de condicionalidades que interferem de forma diversa nos desfechos: Não é somente multideterminado, também há que se considerar que condições similares podem ou não produzir efeitos similares, e a quebra do simplismo da equação geral do “problema/solução”, o contexto exige como resposta um gradiente maior de “inteligência de gestão” para construir soluções; A política de gestão do trabalho no SUS, que nasce imersa no constructo teórico e político da Reforma Sanitária, é tributário do seu ideário: Gestão democrática e participativa como dispositivo de enfrentamento da complexidade; Portanto, envelhecimento e participação tendo a diversidade como dispositivo para aprendizagem significativa. Para novos desafios, novos conhecimentos.
Diante do exposto evidencia-se a complexidade da gerontologia e a demanda por realização de estudos e implementação de ações que possam transformar a realidade de um novo velho. Assim, surge a RedeGeronto com o objetivo de promover e divulgar pesquisas que possam apontar estratégias na garantia do alcance de caminhos para o envelhecimento ativo a todos. Vem buscando oportunizar o encontro de profissionais e pesquisadores da área do envelhecimento com a comunidade em geral, especialmente com os idosos. Possui enfoque interdisciplinar e transgeracional, os quais embasam as reflexões sobre do envelhecimento humano no Brasil e nos demais países para a melhoria da qualidade de vida. Os principais aspectos a serem enfocados se relacionam ao impacto que a transição demográfica e a transição epidemiológica trazem ao setor saúde e as competências necessárias para se promover saúde em um cenário tão diverso (Aumento das doenças crônicas não transmissíveis associada as endemias e epidemias infecciosas); a centralização na oferta de procedimentos para o tratamento de doenças; a desconsideração das diversidades territoriais: sociais, econômicas, de infraestrutura, educacionais, culturais …, as diferenças na organização e no funcionamento do sistema de saúde e dos serviços; e o amargo tempo de fragilidades institucionais e de fascismos por toda parte, que têm efeitos sobre a saúde e sobre o funcionamento dos sistemas de saúde.
A RedeGeronto traz a compreensão de que a vitalidade do campo é produzida na convivência tensa entre os paradigmas distintos (multi/inter/ transdisciplinaridade) em termos de saberes e práticas; na profusão de disciplinas (biociências, ciências da área de humanas e ambientais); e no hibridismo epistemológico (coexistência de normas de produção científica com o paradigma pragmático da eficácia e da ética, das medicinas preventiva e social e das políticas de saúde). Reduzir essa enorme complexidade a um paradigma único, seja em termos de modelos disciplinares, seja em termos de formas de expressão de sua produção, significa reduzir o campo a uma única dimensão, diminuindo-o e empobrecendo-o nos níveis analisados no trabalho. A Rede Geronto é, portanto, uma rede de estudos sobre envelhecimento representada pela figura de uma mandala, que aporta o desenvolvimento do trabalho na saúde e políticas sociais; o reconhecimento de experiências e iniciativas locais; os estudos como aprendizagem na tensão entre os pontos de vista dos diferentes atores que compartilham um padrão ético. Um desafio: é possível pensar numa rede colaborativa entre pesquisadores e organizações/ movimentos? O que materializa esse trabalho colaborativo?
A RedeGeronto realizou seu primeiro encontro
no Congresso Internacional de Tecnologia e Inovação em Gerontologia que ocorreu
em Brasília em abril de 2018, uma 2ª Reunião em Manaus, no período de 30 de
maio a 02 de junho de 2018, durante o 13º Congresso Internacional da Rede
Unida; Exposição “Atenção Primária Forte: produzindo saúde com qualidade no
cotidiano (comemorando 40 anos de Alma Ata e 30 anos do SUS)”, Manaus; Participou
da mostras de Atenção Básica (Belém, julho) e publicou um edital de pesquisa
com chamada de manuscritos na área de serviços de cuidado à idosos. Estão
integrados a RedeGeronto, o Instituto de Educação e Envelhecimento Humano
(IEEH); a Associação Brasileira da Rede Unida; o Laboratório Italo-Brasileiro
de Formação, Pesquisa e Práticas em Saúde Coletiva; e a Rede científica
interinstitucional (UFRGS, UFF, UNB, FIOCRUZ, SENAC, gestões locais …).
Para reflexão a RedeGeronto propõem os
seguintes temas: a) em que medida as demandas de conhecimentos e práticas no
interior dos serviços reconhecem os complexos fluxos de produção de saúde e
demandam novas configurações tecnoassistenciais, b) o trabalho em equipe e o
compromisso ético com a qualidade da vida; c) a ciência reconhece a transição
paradigmática, com fortes tensões com a racionalidade científica moderna;
Entretanto: A formação mantém-se como subjetivação pela técnica e pelo
conhecimento disciplinar especializado; d) O sistema de saúde tem sido utilizado
como “campo de práticas” para adestramento das capacidades dos “recursos” em
formação; Interesses localizados constroem resistências às mudanças: a
“adequação” da linguagem, a dogmatização da clínica/cuidado, as disputas
corporativas etc. e) As práticas profissionais no interior dos serviços não têm
conseguido responder às demandas do sistema e às necessidades dos usuários.
Referências:
MINAYO, Maria
Cecília de Souza. Violência contra idosos: relevância para um velho problema.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(3):783-791, 2003.
LUZ, Madel T.. Complexidade do campo da Saúde
Coletiva: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade, e transdisciplinaridade
de saberes e práticas – análise sócio-histórica de uma trajetória
paradigmática. Saude soc. 2009, vol.18, n.2, pp.304-311.