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NOTA DE ESCLARECIMENTO E POSICIONAMENTO SOBRE VACINAÇÃO CONTRA COVID-19 EM IDOSOS

Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 2021

É de conhecimento público e já descrito em posicionamentos anteriores da SBGG, que a doença causada pelo novo coronavírus apresenta seus maiores impactos sobre a população idosa, principalmente entre os subgrupos mais vulneráveis clinicamente: pacientes frágeis, portadores de síndromes demenciais, de doenças crônicas e moradores de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) .¹

Exemplificando a situação acima em números, segundo dados obtidos no site da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, a letalidade aparente da COVID-19 entre idosos com 80 anos ou mais passa de 25%. Além disso, apesar de 80% dos casos confirmados da doença serem diagnosticados entre adultos e adultos jovens, 80% do total de mortes relacionadas à infecção aconteceram entre idosos.²

Atualmente, segundo inúmeras instituições de saúde do Brasil e do mundo ³ ⁴ ⁵, infelizmente não existem medicamentos preventivos ou tratamentos precoces com efetividade demonstrada em estudos clínicos controlados de qualidade para COVID-19.

Por sua vez, a rápida resposta da comunidade científica mundial se concentrou em estudar e desenvolver vacinas para reduzir a disseminação do vírus e prevenir evolução da COVID-19. Nas últimas semanas, após publicações de relatórios de estudos que demonstraram eficácia relevante de diferentes vacinas e consequentes aprovações do uso dos imunizantes por agências regulatórias em diversos países, a vacinação populacional começou, trazendo esperança fundamentada em ciência para o controle da pandemia e suas graves implicações em múltiplos setores da sociedade.

Algumas preocupações surgiram sobre a eficácia e, principalmente, segurança das vacinas entre idosos clinicamente vulneráveis. Diante disso, serão abordados alguns desses tópicos abaixo:

– A subrepresentatividade de idosos em estudos clínicos é uma realidade, incluindo testes de vacinação para outras doenças, como Influenza H1N1. Contudo, baseando-se em “princípio da complacência” dos ensaios clínicos randomizados e da ínfima interação negativa demonstrada entre idade com resposta terapêutica nos mais diferentes cenários de tratamento, condutas são prescritas aos pacientes mais velhos por concluir se que nos cenários de maior risco absoluto de desfechos negativos é onde há maior impacto na redução de danos mesmo que se estime menor eficácia.

– Em cenários clínicos distintos já se demonstrou previamente que a resposta imunológica induzida por vacinas pode ser menor em pessoas com mais de 60 anos. Entretanto, diante de tal preocupação, vale destacar que, mesmo imaginando resposta imunológica menos intensa às vacinas para COVID-19, a maior incidência de apresentações graves da doença e sua alta letalidade entre idosos permitem estimar relevante redução absoluta de desfechos mesmo se a eficácia da vacina (redução relativo de risco) for menor nessa população.

– O risco iatrogênico ou de dano não intencional é igualmente uma variável a se ponderar. Indivíduos idosos, usuários de múltiplos medicamentos e clinicamente vulneráveis estão expostos a maior frequência de eventos adversos. Por isso, a instituição de qualquer conduta deve motivar a avaliação de risco e benefícios, considerar o compartilhamento de decisões e atrelar-se a monitoramento de efeitos colaterais, quer seja de um tratamento ou de uma vacina.

No presente caso, RESSALTAMOS que o impacto da VACINAÇÃO extrapola o benefício individual por tratar-se da mais eficaz estratégia de BLOQUEIO EPIDEMIOLÓGICO de surtos epidêmicos ao longo da história.

Considerando adicionalmente a eficácia divulgada das vacinas disponíveis no Brasil; a baixa probabilidade de eventos adversos graves relacionados à vacinação mesmo entre idosos frágeis; a escassez de recursos e número de vacinas; o iminente colapso do sistema de saúde; a ausência de alternativas terapêuticas precoces eficazes e o já impactante número de vidas perdidas, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia reitera seu posicionamento:

A SBGG é FAVORÁVEL à ampla e IMEDIATA VACINAÇÃO de IDOSOS no Brasil, sobretudo direcionada aos mais expostos e suscetíveis às graves formas da COVID-19, suas complicações e a morte: IDOSOS FRÁGEIS, PORTADORES DE DOENÇAS CRÔNICAS (incluindo demência) e MORADORES DE ILPI.

Adicionalmente, esta sociedade de especialistas reforça seus posicionamentos anteriores de manutenção dos cuidados preventivos mesmo após vacinação, tais quais a lavagem de mãos, higienização de superfícies, uso obrigatório e correto de máscaras, assim como o distanciamento social.

Renato Gorga Bandeira de Mello – Diretor Científico SBGG
Paulo José Fortes Villas Boas – Membro Comissão Especial COVID 19 SBGG
Carlos André Uehara – Presidente SBGG
Maisa Kairalla – Coordenadora da Comissão Especial COVID 19 SBGG
Daniel Albuquerque Gomes – Membro da Comissão Especial COVID 19 SBGG
Jarbaz de Sá Roriz Filho – Membro da Comissão Especial COVID 19 SBGG
Valmari Cristina Aranha – Membro da Comissão Especial COVID 19 SBGG
Karina Silveira de Almeida Hammerschmidt – Membro da Comissão Especial COVID 19 SBGG

¹ Graham, N. S. N., C. Junghans, R. Downes, C. Sendall, H. Lai, A. McKirdy, P. Elliott, et al. 2020. “SARS-CoV-2 Infection, Clinical Features and Outcome of COVID-19 in United Kingdom Nursing Homes”. The Journal of Infection 81 (3): 411–19. https://doi.org/10.1016/j.jinf.2020.05.073.
² Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul. Disponível em: https://ti.saude.rs.gov.br/covid19/.
³ National Institute of Health – United States of America. Treatment Guidelines for COVID-19. Disponível em: covid19treatmentguidelines.nih.gov/therapeutic-management/
⁴ Center for Disease Control – United States of America. Disponível em: https://www.covid19treatmentguidelines.nih.gov/therapeutic-management/
⁵ ATUALIZAÇÕES E RECOMENDAÇÕES SOBRE A COVID-19 da Sociedade Brasileira de Infectologia. https://infectologia.org.br/wp-content/uploads/2020/12/atualizacoes-e-recomendacoes-covid-19.pdf

Fonte: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

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