Caso Biden, etarismo e capacitismo emergem das sombras

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, 81, anunciou que não concorrerá às próximas eleições presidenciais. Esta decisão provocou uma série de reações, desde apoio compreensivo até críticas ferozes. No entanto, o que mais chamou a atenção foram os comentários impregnados de etarismo e capacitismo, evidenciando como esses preconceitos ainda permeiam a sociedade, inclusive nos mais altos níveis de liderança.

O etarismo, ou preconceito baseado na idade, é uma forma de discriminação que desvaloriza as capacidades e contribuições de pessoas mais velhas. No caso do presidente Biden, muitos críticos utilizaram sua idade como um argumento contra sua capacidade de liderar. Comentários depreciativos sobre seu vigor, saúde mental e energia não só desconsideram sua experiência e habilidades adquiridas ao longo dos anos, mas também perpetuam estereótipos prejudiciais sobre o envelhecimento. A idade avançada não deve ser automaticamente associada à incapacidade. Muitas vezes, indivíduos mais velhos trazem uma sabedoria e perspectiva inestimáveis que só o tempo pode proporcionar.

Paralelamente, o capacitismo, ou preconceito contra pessoas com deficiência, também se manifestou de maneira insidiosa. Insinuações sobre a saúde mental e física do presidente sugerem que qualquer declínio, real ou percebido, o desqualificaria para o cargo. Este tipo de discriminação ignora a realidade de que muitas pessoas com deficiências desempenham funções de liderança de maneira altamente eficaz. A competência não deve ser medida pela ausência de limitações físicas ou mentais, mas sim pela capacidade de tomar decisões informadas, liderar com empatia e visão, e gerenciar de maneira eficaz.

Um exemplo claro dessa discriminação está presente na capa da revista Time que ilustra a saída de Joe Biden e a entrada de Kamala Harris na cena política. Cris Sabbag, M.Sc., em seu artigo “O que as eleições presidenciais dos EUA revelam sobre etarismo no mercado de trabalho”, destaca como essa representação visual reflete um viés etarista e subestima a capacidade de adaptação e resiliência dos profissionais mais velhos. Sabbag enfatiza que focar desproporcionalmente em aspectos negativos, como o possível declínio cognitivo e problemas de saúde, perpetua estereótipos que não se aplicam a todos os indivíduos dessa faixa etária.

Estudos têm mostrado que muitos preconceitos sobre a idade são infundados, uma vez que pesquisas revelam que a neuroplasticidade permanece ativa na velhice, permitindo que pessoas mais velhas adquiram novas habilidades e conhecimentos. A decisão do presidente de não concorrer às próximas eleições pode ser vista também como um reconhecimento sábio dos desafios pessoais e profissionais que ele enfrenta, ou a abertura de espaço para novas lideranças dentro de seu partido.

Adotar uma postura etarista ou capacitista ao avaliar líderes políticos não só empobrece o debate público, mas também exclui uma vasta gama de talentos que poderiam contribuir significativamente para o progresso social. Precisamos, como sociedade, redefinir nossos critérios de competência e liderança, valorizando a diversidade de experiências e habilidades que cada indivíduo traz para a mesa.

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, serve como um lembrete de que o verdadeiro valor de um líder não reside em sua idade ou condição física, mas em sua capacidade de inspirar, governar com sabedoria e empatia, e promover o bem-estar de sua nação. Ao superarmos o etarismo e o capacitismo, podemos criar uma sociedade mais inclusiva e justa, onde todos têm a oportunidade de contribuir e liderar, independentemente de suas características pessoais.

O conhecimento é a mola propulsora para que a sociedade saia das sombras e mude o seu comportamento a respeito do etarismo e o capacitismo. A Rede Geronto promoverá em agosto, no Distrito Federal, o Fórum Internacional “Sábias Vivências” com universidades, instituições, parlamentares, associações parar trocar estudos, pesquisas e iniciativas que visam disseminar promover discussões sobre envelhecimento ativo.

Por Suzana Schwerz Funghetto, Diretora da Rede Internacional de Estudos e Pesquisas e Sistemas de Cuidado de Envelhecimento – Rede Geronto

Pular para o conteúdo