- Alcindo Ferla – Coordenador Nacional da Rede Unida
- Maria Augusta Nicoli – Rede Unida Internacional e da Universidade de Parma
RESUMO
O envelhecimento populacional é um fenômeno global que impacta diretamente os sistemas de saúde e previdência. Este artigo compara as trajetórias do Brasil e da Itália no enfrentamento desse desafio, com foco nas políticas públicas voltadas para as demências, especialmente o Alzheimer. Ambos os países têm implementado planos nacionais para lidar com essas doenças, como o Plano Nacional para Enfrentar as Demências e o Alzheimer no Brasil (2024) e o Piano Nazionale Demenze na Itália (2014). O artigo também destaca o papel fundamental da cooperação internacional, como o Laboratório Ítalo-Brasileiro de Saúde Coletiva, organizado pela Associação Rede Unida, e as iniciativas da Rede Internacional de Estudos e Pesquisas e Sistemas de Cuidado de Envelhecimento – Redegeronto, que promovem a troca de conhecimento entre Brasil e Itália. Essas redes colaborativas estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente à ODS 17, que visa fortalecer parcerias globais para o desenvolvimento sustentável. O artigo conclui que a troca de experiências entre os dois países oferece insights valiosos para a implementação de políticas públicas eficazes voltadas para o envelhecimento populacional e o manejo das demências.
Palavras-chave: Envelhecimento populacional, Políticas públicas, Alzheimer, Brasil, Itália, Cooperação internacional.
1. Introdução
O envelhecimento populacional é um fenômeno global que tem se intensificado nas últimas décadas, afetando profundamente as estruturas sociais, econômicas e políticas dos países. No Brasil e na Itália, o aumento da expectativa de vida, combinado com a diminuição das taxas de natalidade, tem provocado uma transformação demográfica significativa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021), o envelhecimento populacional exige políticas públicas eficazes para garantir a sustentabilidade dos sistemas de saúde e previdência, além de promover a inclusão social e o envelhecimento ativo. Nesse contexto, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) lançou a Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030), uma iniciativa global que visa melhorar a vida dos idosos e de suas famílias, priorizando a inclusão social e a saúde ao longo do ciclo de vida. Este artigo busca comparar as trajetórias de envelhecimento no Brasil e na Itália, enfatizando os desafios e oportunidades emergentes e discutindo as políticas públicas ligadas ao envelhecimento, especialmente no âmbito da OPAS, com destaque para doenças prevalentes como as demências e o Alzheimer.
1.1. Contextualização do Envelhecimento Populacional
O Brasil e a Itália enfrentam o envelhecimento populacional, porém em diferentes estágios. Enquanto o Brasil, tradicionalmente visto como uma nação jovem, tem visto uma transição rápida para uma população mais envelhecida, a Itália já apresenta uma das populações mais idosas do mundo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022), 10,2% da população brasileira tem 65 anos ou mais, e essa proporção deve crescer significativamente nas próximas décadas. Já na Itália, os dados indicam que 23,4% da população pertence à faixa etária de 65 anos ou mais (ISTAT, 2023). Essa transição demográfica está associada a uma série de mudanças no perfil epidemiológico das duas populações, sendo as doenças crônicas e neurodegenerativas especialmente prevalentes entre os idosos.
Com o aumento da longevidade, surgem novas demandas para os sistemas de saúde dos dois países, principalmente em relação ao tratamento e à gestão de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como doenças cardiovasculares, diabetes, câncer, além de condições neurodegenerativas, como o Alzheimer e outras formas de demência. A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021) ressalta que a prevalência dessas doenças aumenta exponencialmente com a idade, criando desafios para a gestão de saúde pública e a sustentabilidade dos sistemas de cuidados. No contexto da Década do Envelhecimento Saudável da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que enfatiza a necessidade de políticas integradas para promover o envelhecimento com qualidade de vida, a atenção às doenças prevalentes entre os idosos é crucial para a formulação de políticas públicas eficazes.
Além disso, as demências, em especial o Alzheimer, são de particular relevância para os sistemas de saúde do Brasil e da Itália. Estima-se que cerca de 1,2 milhão de brasileiros vivam com algum tipo de demência, sendo o Alzheimer a forma mais comum, responsável por aproximadamente 60% dos casos (ABRAz, 2022). Na Itália, os números são semelhantes, com cerca de 1,3 milhão de pessoas diagnosticadas com demência, com o Alzheimer também sendo a causa predominante (ISTAT, 2023). O aumento expressivo dessas condições tem gerado a necessidade de uma reestruturação dos sistemas de saúde para proporcionar diagnóstico precoce, cuidados especializados e apoio aos cuidadores, em linha com as diretrizes internacionais, como as propostas pela OPAS.
As políticas públicas em ambos os países precisam abordar essas doenças de maneira integrada, assegurando que as populações idosas tenham acesso aos cuidados necessários para enfrentar essas condições. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento para algumas dessas doenças, mas ainda existem desafios, como a falta de infraestrutura e a distribuição desigual de serviços especializados. Na Itália, um sistema de saúde mais consolidado oferece uma gama maior de serviços, mas também enfrenta dificuldades devido ao crescente número de idosos.
1.2. Importância da Comparação entre Brasil e Itália
A comparação entre o Brasil e a Itália permite identificar semelhanças e diferenças nas políticas públicas e tendências demográficas que moldam o envelhecimento populacional. Embora o Brasil esteja em um estágio mais inicial do processo de envelhecimento em comparação com a Itália, ambos os países enfrentam desafios relacionados à sustentabilidade dos sistemas de previdência e saúde. O envelhecimento populacional exige que ambos os países adotem políticas inovadoras para garantir o bem-estar dos idosos e mitigar os impactos econômicos e sociais decorrentes do envelhecimento (OCDE, 2022). A OPAS, por meio da Década do Envelhecimento Saudável, propõe um quadro global para enfrentar esses desafios de forma colaborativa, promovendo o intercâmbio de experiências e inovações políticas (OPAS, 2021).
2. Metodologia de Pesquisa
A metodologia deste estudo envolve uma análise comparativa de dados secundários obtidos de fontes oficiais como o IBGE no Brasil e o ISTAT na Itália, além de relatórios de organizações internacionais como a OPAS, a OMS e a OCDE. A análise inclui indicadores demográficos e socioeconômicos para identificar padrões e tendências relacionados ao envelhecimento populacional nos dois países.
2.1. Fontes de Dados Utilizadas
Os dados demográficos e socioeconômicos foram coletados dos Censos Demográficos de 2022 no Brasil (IBGE, 2022) e de 2023 na Itália (ISTAT, 2023). Também foram considerados relatórios da OPAS sobre a Década do Envelhecimento Saudável (OPAS, 2021) e da OCDE sobre os impactos socioeconômicos do envelhecimento (OCDE, 2022).
2.2. Critérios de Seleção e Comparação
Os critérios de comparação entre Brasil e Itália incluíram indicadores demográficos como expectativa de vida, taxa de natalidade e proporção de idosos, além de aspectos como gastos com saúde pública, previdência social e políticas voltadas ao envelhecimento ativo, com destaque para as iniciativas da Década do Envelhecimento Saudável da OPAS.
3. Evolução Demográfica e Doenças Prevalentes
A evolução demográfica tanto no Brasil quanto na Itália revela um envelhecimento populacional acelerado. No Brasil, a expectativa de vida aumentou de forma expressiva, enquanto a taxa de fecundidade caiu para níveis abaixo da reposição populacional. Na Itália, a transição demográfica ocorreu mais cedo, consolidando uma população majoritariamente idosa.
3.1. Tendências Gerais de Envelhecimento e Prevalência de Doenças
À medida que a população envelhece, a prevalência de doenças crônicas e neurodegenerativas aumenta. As demências, particularmente o Alzheimer, são as condições mais comuns entre os idosos, afetando não apenas os indivíduos, mas também suas famílias e cuidadores. A OMS estima que a prevalência global de demência deverá triplicar até 2050, à medida que a população global envelhece (OMS, 2021).
No Brasil, doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, além de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer, estão entre as principais causas de morbidade e mortalidade entre os idosos. Na Itália, além de doenças semelhantes, o Alzheimer e outras demências representam um desafio significativo para os sistemas de saúde e previdência, dada a alta proporção de idosos no país (ISTAT, 2023).
3.2. Fatores que Influenciam o Envelhecimento Populacional e as Doenças Neurodegenerativas
Diversos fatores influenciam o envelhecimento populacional e a prevalência de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. Entre os mais relevantes estão o aumento da expectativa de vida, as mudanças nos estilos de vida e a urbanização. No Brasil, as desigualdades no acesso a cuidados de saúde adequados também contribuem para o aumento da prevalência de doenças crônicas mal controladas, que podem agravar as condições neurodegenerativas (IBGE, 2022).
Na Itália, o sistema de saúde bem estruturado e de acesso universal permite um diagnóstico precoce e uma melhor gestão de doenças crônicas e neurodegenerativas, embora o crescente número de idosos desafie a sustentabilidade desse sistema. Políticas de prevenção e tratamento do Alzheimer, além do suporte a cuidadores, são pilares importantes da resposta italiana a essa questão (ISTAT, 2023).
4. Aspectos Sociais e Econômicos das Doenças Neurodegenerativas
As demências, incluindo o Alzheimer, geram enormes custos econômicos e sociais para os países. No Brasil, o impacto financeiro dessas doenças sobre o sistema de saúde é considerável, com custos indiretos relacionados aos cuidadores informais e à perda de produtividade. Na Itália, onde a proporção de idosos é maior, os custos diretos com cuidados médicos e institucionais para pessoas com demência são uma preocupação crescente.
4.1. Impactos do Envelhecimento na Previdência, Saúde e Gestão das Demências
Tanto o Brasil quanto a Itália enfrentam desafios econômicos substanciais devido ao envelhecimento populacional e ao aumento de doenças neurodegenerativas. No Brasil, o SUS oferece tratamento para demências, mas o acesso a serviços especializados ainda é limitado em algumas regiões (Brasil, 2003). Na Itália, programas nacionais oferecem suporte às famílias e cuidadores de pacientes com Alzheimer, além de políticas voltadas para o diagnóstico precoce e tratamento continuado (ISTAT, 2023).
4.2. Desafios e Oportunidades para Gestão do Alzheimer
Embora os desafios sejam imensos, o envelhecimento populacional e a prevalência do Alzheimer também trazem oportunidades para o desenvolvimento de políticas inovadoras e tecnologias assistivas. A OPAS, por meio da Década do Envelhecimento Saudável, incentiva o desenvolvimento de sistemas de saúde que sejam capazes de diagnosticar e tratar doenças neurodegenerativas de forma eficaz, além de apoiar o desenvolvimento de sistemas de cuidados de longo prazo, essenciais para garantir a qualidade de vida dos idosos (OPAS, 2021).
5. Políticas Públicas para Enfrentar as Demências e o Alzheimer
Com o aumento da expectativa de vida e o envelhecimento acelerado da população, as demências, especialmente o Alzheimer, tornaram-se um dos maiores desafios de saúde pública tanto no Brasil quanto na Itália. Essas condições não apenas afetam a qualidade de vida dos indivíduos, mas também impõem uma carga significativa aos cuidadores e aos sistemas de saúde. Em resposta a esse cenário, ambos os países têm implementado políticas nacionais para enfrentar as demências, com ênfase no diagnóstico precoce, no tratamento adequado e no suporte contínuo para os pacientes e suas famílias. Nos últimos anos, o Brasil deu um passo significativo com a publicação do Plano Nacional para Enfrentar as Demências e o Alzheimer em 2024, enquanto a Itália já havia estabelecido um marco com o Piano Nazionale Demenze em 2014. Essas políticas refletem o comprometimento dos governos em lidar com o impacto crescente dessas condições na sociedade.
5.1. Políticas no Brasil
No Brasil, as políticas de saúde voltadas para o envelhecimento e o tratamento de demências têm evoluído, especialmente após a publicação do Plano Nacional para Enfrentar as Demências e o Alzheimer em 2024. Este plano representa um avanço nas políticas públicas de saúde para a terceira idade, estabelecendo uma abordagem mais integrada e abrangente para o diagnóstico, tratamento e suporte aos pacientes com demências.
O plano de 2024 prioriza três áreas estratégicas principais:
- Diagnóstico Precoce e Acesso a Tratamento: O plano estabelece metas para ampliar o acesso a diagnósticos precoces de demências, especialmente Alzheimer, através da criação de centros especializados em todo o país. Esses centros terão a responsabilidade de fornecer uma avaliação multidisciplinar, garantindo que os pacientes tenham acesso rápido ao diagnóstico e ao início de um tratamento adequado. A ampliação do acesso ao tratamento medicamentoso, bem como o incentivo à pesquisa para novos tratamentos, também são elementos-chave.
- Apoio aos Cuidadores: Reconhecendo a importância dos cuidadores familiares, o plano inclui diretrizes para o desenvolvimento de programas de apoio e capacitação. O suporte psicológico, a formação para os cuidados diários e a provisão de serviços de apoio temporário para aliviar a carga dos cuidadores são medidas que buscam melhorar a qualidade de vida tanto dos cuidadores quanto dos pacientes.
- Integração dos Serviços de Saúde: O plano enfatiza a necessidade de integrar os cuidados para as demências ao longo dos diferentes níveis de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS), desde a atenção primária até os serviços de cuidado de longo prazo. A formação contínua dos profissionais de saúde, para que estejam aptos a identificar e tratar as demências nas fases iniciais, também é um componente central.
Essas medidas foram desenhadas para enfrentar as lacunas existentes no cuidado das demências, especialmente no que diz respeito ao acesso desigual aos serviços especializados em regiões mais remotas do país. Ao consolidar um plano nacional, o Brasil busca mitigar os impactos socioeconômicos das demências e garantir que a população idosa tenha um cuidado mais equitativo e eficiente.
5.2. Políticas na Itália
Na Itália, o governo adotou uma abordagem antecipada com a criação do Piano Nazionale Demenze em 2014, uma estratégia abrangente para enfrentar o aumento dos casos de demência no país. Este plano foi pioneiro na estruturação de políticas nacionais voltadas para as demências, promovendo uma ação coordenada entre o sistema de saúde, as famílias e os centros de pesquisa.
O Piano Nazionale Demenze foca em quatro áreas estratégicas principais:
- Prevenção e Diagnóstico Precoce: O plano incentiva campanhas de conscientização sobre fatores de risco modificáveis para demências, como estilo de vida e saúde cardiovascular, enquanto promove o diagnóstico precoce por meio de avaliações regulares em idosos. O diagnóstico precoce é um dos pilares da estratégia italiana, com o objetivo de intervir antes que a doença progrida para estágios mais avançados.
- Tratamento Multidisciplinar: A Itália implementou um sistema de tratamento baseado em uma abordagem multidisciplinar, envolvendo médicos, neurologistas, psicólogos e assistentes sociais, para garantir que os pacientes recebam cuidados holísticos. Além do tratamento medicamentoso, há uma ênfase no suporte psicossocial, essencial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
- Apoio a Cuidadores: O Piano Nazionale Demenze reconhece o papel crucial dos cuidadores, que são, em sua maioria, familiares dos pacientes. O plano inclui medidas para garantir que os cuidadores tenham acesso a recursos e treinamento adequados, além de suporte emocional e psicológico. A Itália investiu em programas de “respiro”, que oferecem aos cuidadores períodos de descanso, durante os quais os pacientes podem ser atendidos em instituições especializadas ou receber cuidados domiciliares temporários.
- Integração dos Serviços de Saúde e Pesquisa: O plano italiano promove a integração dos serviços de saúde, garantindo que os pacientes com demência possam navegar facilmente pelo sistema, desde os serviços de diagnóstico até os cuidados paliativos. Além disso, o plano investe em pesquisas voltadas para novos tratamentos e tecnologias assistivas para pacientes com Alzheimer. A Itália tem se destacado como um dos líderes europeus em pesquisa sobre demências, com programas que promovem a colaboração entre universidades, centros de pesquisa e hospitais.
Desde a implementação do plano em 2014, a Itália tem trabalhado para aprimorar a coordenação entre os serviços sociais e de saúde, promovendo a integração entre cuidados domiciliares e institucionais, algo essencial para a gestão de longo prazo das demências. A Itália também busca fortalecer o papel dos cuidadores profissionais, com uma crescente demanda por formação específica para esses profissionais no atendimento a pessoas com Alzheimer.
6. Contribuição do Conhecimento em Rede: Associação Rede Unida e Rede Internacional de Estudos e Pesquisas e Sistemas de Cuidado de Envelhecimento – Redegeronto
O avanço das políticas públicas voltadas para o envelhecimento populacional e o enfrentamento das demências, especialmente o Alzheimer, tem sido fortalecido por iniciativas colaborativas em rede. No Brasil, a Associação Rede Unida e a Rede Internacional de Estudos e Pesquisas e Sistemas de Cuidado de Envelhecimento – Redegeronto têm desempenhado papéis cruciais na articulação de conhecimentos e práticas que integram diversos atores no campo da saúde, educação e promoção do envelhecimento saudável.
A Associação Rede Unida se destaca por promover o diálogo e a troca de experiências entre profissionais de saúde, gestores e pesquisadores de diversas áreas. Um exemplo é o Laboratório Ítalo-Brasileiro de Saúde Coletiva, desenvolvido pela Rede Unida, que tem como objetivo facilitar a troca de conhecimento entre Brasil e Itália. Por meio desse laboratório, profissionais dos dois países colaboram para desenvolver soluções conjuntas, aproveitando a expertise italiana na região da Emilia-Romana, que possui um dos sistemas de saúde mais avançados na Europa. Essa troca de experiências é guiada pelos preceitos da ODS 17 da ONU, que visa fortalecer as parcerias globais para o desenvolvimento sustentável, e pela crença no caráter público da construção do conhecimento no século XXI.
Além disso, o Laboratório Ítalo-Brasileiro reflete o compromisso da Rede Unida com a construção coletiva do conhecimento, especialmente no campo da saúde pública, onde os sistemas de atendimento e gestão de cuidados de longa duração são cruciais para responder aos desafios do envelhecimento populacional. As experiências trocadas entre as instituições brasileiras e italianas não apenas beneficiam a saúde coletiva, mas também contribuem para a melhoria da formação de profissionais de saúde, ampliando a qualidade e o alcance dos serviços prestados.
A Rede Internacional de Estudos e Pesquisas e Sistemas de Cuidado de Envelhecimento – Redegeronto, por sua vez, tem atuado de forma expressiva em suas imersões e projetos, buscando a cooperação internacional com instituições e serviços de saúde na Itália, particularmente na região da Emilia-Romana. Através dessas colaborações, a Redegeronto fomenta a troca de conhecimento e práticas inovadoras que podem ser adaptadas ao contexto brasileiro, sempre respeitando os preceitos da ODS 17, que incentiva o intercâmbio de experiências e fortalece as parcerias globais para o desenvolvimento sustentável. Além disso, a Redegeronto se alinha ao caráter público da construção do conhecimento no século XXI, promovendo uma abordagem inclusiva e colaborativa que valoriza a participação de diferentes setores da sociedade no desenvolvimento de soluções para o envelhecimento populacional.
Essas iniciativas da Rede Unida e da Redegeronto não apenas proporcionam uma plataforma para a disseminação de conhecimento técnico e científico, como também fomentam a integração de novas práticas e políticas públicas entre Brasil e Itália. A colaboração com a região da Emilia-Romana, por exemplo, tem gerado importantes avanços no entendimento e manejo das demências, ao mesmo tempo em que promove a formação contínua de profissionais de saúde nos dois países. O intercâmbio de ideias e práticas nesses projetos, ancorado em princípios de equidade e inclusão, tem sido fundamental para fortalecer os sistemas de saúde e garantir um atendimento de qualidade para as populações idosas.
Além de contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas mais robustas, o trabalho colaborativo realizado tanto pelo Laboratório Ítalo-Brasileiro de Saúde Coletiva quanto pelos projetos da Redegeronto reforça a importância de unir esforços internacionais na criação de soluções para o envelhecimento populacional. Esses esforços exemplificam como a troca de conhecimento entre países pode levar à implementação de práticas mais eficazes e sustentáveis, alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com foco na ODS 17, que incentiva parcerias para a construção de um futuro mais inclusivo e resiliente.
7. Conclusão
A publicação do Plano Nacional para Enfrentar as Demências e o Alzheimer no Brasil em 2024 e a adoção do Piano Nazionale Demenze na Itália em 2014 representam marcos importantes no enfrentamento das demências nesses dois países. Embora as realidades demográficas e os desafios enfrentados sejam diferentes, ambos os planos têm como objetivo central melhorar a qualidade de vida das pessoas com demência e de seus cuidadores, promovendo uma abordagem integrada que facilite o diagnóstico precoce, o tratamento eficaz e o suporte contínuo.
A implementação dessas políticas, no entanto, ainda requer avanços significativos, principalmente no que diz respeito à equidade no acesso aos serviços de saúde e ao fortalecimento das redes de apoio. A troca de experiências entre Brasil e Itália, particularmente no contexto de políticas voltadas para o envelhecimento saudável, pode oferecer insights valiosos para melhorar as respostas de ambos os países a esse crescente desafio de saúde pública.
Além disso, as iniciativas da Associação Rede Unida e da Rede Internacional de Estudos e Pesquisas e Sistemas de Cuidado de Envelhecimento – Redegeronto têm reforçado a importância da colaboração internacional, conforme exemplificado pelos intercâmbios de conhecimento com a Itália, que se alinham aos princípios da ODS 17. A contribuição dessas redes de cooperação internacional oferece um modelo para a construção pública e compartilhada de soluções eficazes para o envelhecimento populacional e o enfrentamento das demências, destacando a relevância de parcerias globais para o fortalecimento dos sistemas de saúde.
Referências
Brasil. (2024). Plano Nacional para Enfrentar as Demências e o Alzheimer. Ministério da Saúde.
Brasil. (2006). Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Ministério da Saúde. Disponível em: https://www.gov.br/saude.
IBGE. (2022). Censo Demográfico 2022. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
ISTAT. (2023). Rapporto Demografico 2023. Instituto Nazionale di Statistica.
OCDE. (2022). Relatório sobre Envelhecimento Populacional. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
OPAS. (2021). Década do Envelhecimento Saudável: 2021-2030. Organização Pan-Americana da Saúde.
OMS. (2021). World Report on Ageing and Health. Organização Mundial da Saúde