O podcast Saber Sênior, iniciativa da Rede Geronto, em parceira com o Instituto Mariano de Estudos e Inovação (IMEI) recebeu o presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), gestor do Convita, serviço voltado à longevidade em São Paulo, e consultor em Gerência da Saúde para 60+, da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS-OMS), Diego Félix Miguel.
Conduzido pelo jornalista Sérgio Cursino, o mestre em Filosofia e dourando em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP), mergulhou em sua paixão, a Filosofia, para discorrer sobre as relações de poder nos contextos do envelhecimento e da desigualdade social, nos quais são submetidas as pessoas idosas, principalmente, depois da aposentadoria. “Nessa fase, rompemos muitos vínculos, e nossa profissão é a capa que investimos ao longo da vida. No processo do envelhecimento não somos preparados para a velhice e é urgente resgatar essa identidade, num momento em que o idoso é visto pela sociedade como improdutivo ou incapaz”, alertou.
Ainda segundo Diego, a idade não é incapacitante. “Uma pessoa com Alzheimer, por exemplo, que está num estado avançado, muitas vezes, sendo cuidada por outras pessoas e com mínima interação, mas que continua produzindo porque cria estruturas de vínculos familiares que talvez não teria naquele contexto ou nem existissem. Enquanto vivermos, contribuímos e essa produção cultura e do saber, do compartilhamento de experiência fortalecem os vínculos sociais e afetivo que carregamos ao longo da vida ”, afirmou.
Ao responder ponderação de Sérgio Cursino sobre a velocidade que a vida atual impõe, com as redes sociais e a voracidade descartável do consumo de informações, Diego lembrou que, em 2021, a Organização Pan-Americana de Saúde lançou a década do envelhecimento saudável nas Américas, com o objetivo de chamar a atenção para o impacto da desigualdade social nesse avanço acelerado da longevidade. “Vivemos mais essa conquista social, porque temos estruturas melhores. No entanto, a Organização Pan-Americana também divulgou outro relatório mundial sobre idadismo, que mostra a velhice como um processo estereotipado e de preconceito estrutural. Aprendemos a pensar de forma equivocada ”, lamentou.
Diego ressalta que o envelhecimento não se limita ao aspecto fisiológico. “O idoso pensa: ”Não posso mais frequentar alguns lugares porque agora sou um idoso ou idosa ou essa roupa não é para mim”. Esse estereótipo muda a nossa própria percepção. Vivemos nessa sociedade permeada por tantos preconceitos, que essas atitudes estão também nas instituições, que perpetuam e reforçam esses preceitos”, lastimou.
Quanto à educação, Diego Félix afirmou que trabalha desde os 18 anos com idosos e é um admirador do processo educativo aos 60+. “É um projeto a ser cultivado como um projeto de vide para todas as realidades. A educação ocupar um pilar do envelhecimento ativo, que é a aprendizagem ao longo da vida. É preciso que o idoso se enxergue nessa fase da vida, seja numa educação formal ou não, mas onde possa trabalhar a consciência, informações relevantes e conceituais, trazendo os temas da vida ao cotidiano dele, por meio do nosso olhar, a partir do repertório que constituímos ao longo da vida”, finalizou.