A necessidade de uma abordagem multifatorial para o envelhecimento, cenários de demências e o impacto do ambiente social e físico na qualidade de vida e no bem-estar do idoso foram as ricas contribuições do professor titular de Psicologia Clínica no Departamento de Psicologia da Universidade de Bolonha, na Itália, prof. Rabih Chattat, em painel do II Congresso Internacional de Tecnologia e Inovação em Gerontologia (CITIG II) e o III Seminário Internacional de Inovação e Longevidade, que ocorre até amanhã, em São Paulo. A Rede Geronto é parceira da iniciativa, promovida pelo Centro Integrado de Ensino e Pesquisa UniSER, vinculado à Universidade de Brasília (UnB).
Autor e coautor de várias publicações revisadas por pares sobre envelhecimento, Chattat, ressaltou que a saúde não é apenas um estado físico, mas também social e espiritual, que interagem em um processo dinâmico. “No linear de nossas vidas, o envelhecimento é marcado por mudanças, que ocorrem principalmente, a partir dos 60 anos. Mas é preciso entender que temos um cérebro que se adapta continuamente em sua estrutura e função. E tudo dependerá de como vamos encarar essas transformações e o que fazer delas para vivermos bem”.
O professor ressaltou a importância da reserva cognitiva acumulada ao longo da vida, numa analogia com uma embarcação forte, construída para sustentar e navegar. “Do ponto de vista psicológico, não mudamos muito o que somos e nem há evidências de que envelhecer significará que a depressão virá. Até porque, ao envelhecer somos mais capazes de regular as emoções, em verdadeiras estratégias adquiridas ao longo da existência”, afirmou.
Chattat ressaltou ainda a importância das relações sociais e os riscos do idoso viver isolado ou solitário. Para ele, a solidão é um processo compartilhado por escolhas pessoais e pela sociedade, que não possibilita os 60+ viverem em ambientes adaptados, inclusivos e empáticos. Na avaliação de Chattat, a saúde física guarda impactos positivos, mas não é um caminho de mão única. “Podemos ter boa saúde, mas envelhecermos mal. Assim, é preciso bom funcionamento cognitivo, boas condições emocionais e interação social”, repisou.
Especialista em envelhecimento, ele pondera que é preciso enxergar o entardecer da vida, com mais leveza. “Nem sempre será depressão. Às vezes, o idoso ainda está em adaptação da nova realidade ou resiste às mudanças impostas pelo tempo ou a ocorrências, como a perda de um familiar. A demência, por exemplo, pode mudar a vida de uma pessoa, mas não somente pela doença, em si. Não é porque temos uma doença crônica ou demência que o idoso pode viver em sofrimento, pois, há outros fatores a serem atribuídos”, ponderou.
Ao finalizar a exposição, Chattat afirmou que em caso de demência, o idoso deve recuperar o equilíbrio e reconhecer que precisa de ajuda e suporte adequado à nova realidade. “A aceitação é outra questão essencial, uma vez que, não aceito o meu estado, não dou um senso à nova condição, não viverei bem física e emocionalmente. A adaptação é essencial até na doença e a incompreensão dificulta, inclusive, as relações sociais e pessoais”, garante. Ainda segundo Chattat, a família é o suporte crucial nessa trajetória de superação.