- Kerolyn Ramos Garcia
- Suzana Schwerz Funghetto
- Eliana Fortes Gris
- Aline Gomes de Oliveira
- Margô Gomes de Oliveira Karnikowski
RESUMO:
Grandes desafios são proeminentes do envelhecimento populacional, destacando-se a dificuldade de acesso à educação por essa faixa etária. Nesse contexto, estratégias de enfrentamento dos desafios para um envelhecimento digno e ativo são primordiais para garantia de qualidade de vida para todas as idades. A educação enquanto estratégia de emancipação e empoderamento social vem sendo trabalhada no âmbito de programas educacionais para idosos, com vistas à melhoria das condições de vida dessa população a partir do conhecimento sobre sua própria velhice. Dessa forma, o Programa Universidade do Envelhecer da Universidade de Brasília – UniSER/UnB busca ampliar as capacidades e habilidades na vida adulta e dos idosos da comunidade por meio da educação, desenvolvendo seus objetivos de maneira a contribuir para a transformação da realidade brasileira. Protagonistas de diversas ações, os participantes do programa são desafiados a priorizar sua autonomia e desenvolver suas capacidades de contribuir socialmente e aprender ao longo de toda a vida.
O envelhecimento populacional é uma realidade mundial que envolve grandes desafios aos diversos setores da sociedade, sobretudo nos países em desenvolvimento. Associado a transição demográfica acelerada e na ausência de implementação de políticas sociais efetivas que possam garantir as condições de se envelhecer de forma digna e ativa, os idosos passam por uma situação de extrema vulnerabilidade no Brasil.
Neste cenário é possível verificar a incapacidade dos serviços de saúde em suprir as demandas geradas, agravando ainda mais a fragilidade de quem vivencia a velhice. Assim as famílias, a sociedade e o Estado assistem o envelhecer de sua população e o surgimento de gerações inteiras que não sabem o que fazer com a longevidade. Se por um lado vive-se mais, por outro não se sabe em que condições se estabelecem esta experiência. A família, a sociedade e o Estado podem, portanto, tornarem-se dificultadores de um processo que já carrega consigo suas limitações.
A família brasileira, que há poucos anos era composta majoritariamente por jovens, não se encontra preparada para o ente que envelheceu. Dessa forma, o velho passa a ser usufruído como provedor financeiro, deixando de ser ator familiar ao perder sua identidade adulta no seio de sua própria casa, e, ainda, passa a não se reconhecer na estrutura social em que se encontra. Em outros casos, a negligência com o familiar envelhecido chega ao ponto da invisibilidade, onde este não é mais visto como um ser pensante, mas sim alguém que muito onera sua existência.
Para a sociedade brasileira, a realidade do país é obscurecida pelo marketing social feito sobre o que representa a juventude. O Brasil ainda se vê como um país jovem e encara a juventude como um estilo de vida, muitas vezes negando a sua velhice. Por fim o Estado possui uma visão restrita, voltada para os encargos financeiros de ordem previdenciária, além de não ter preparo de seus serviços de assistência para uma população envelhecida e com peculiaridades advindas do processo natural de envelhecer. Encarado como um peso financeiro e sem suporte estatal, negligenciado pela família e invisível socialmente, a população de velhos brasileira se encontra adoecida, sem assistência à saúde e sem estratégias para sua promoção, resultando nos elevados índices de depressão, doenças crônicas e violência contra as pessoas idosas.
O idoso, por sua vez, desperta para a velhice de forma abrupta e sem saber como lidar com tantos desafios de ordem biológica, psicológica e sociais. Neste contexto, o grupo de pesquisa Determinantes do Envelhecimento Humano (GPDEH) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), juntamente com o Instituto de Educação e Envelhecimento Humano (IEEH) buscam criar ambientes que propiciem traçar estratégias de se envelhecer no Brasil. Ambas as instituições identificaram a educação enquanto estratégia fundamental de independência e autonomia, de modo a contribuir para o despertar de um “novo velho” alicerçado na valorização do ser, do aprender e do ensinar e valorizando a convivência e o aprendizado coletivo ao longo da vida.
Assim, por iniciativa do GPDEH, foi criado em 2015 o Programa Universidade do Envelhecer da Universidade de Brasília (UNISER/UnB), o qual fomenta ações integradoras norteadas pelos eixos educação, saúde, direito, políticas, arte e cultura, de modo a ampliar as capacidades e habilidades na vida adulta e dos idosos da comunidade, visando adoção de comportamento que estimule a cidadania, o empoderamento e o desenvolvimento humano e social, além de contribuir para a transformação das pessoas envolvidas. Por meio da UniSER, o curso de educador político social em gerontologia é ofertado como a principal iniciativa educacional para desenvolver os objetivos propostos através da educação emancipadora.
Uma vez que o programa propõe suas ações de modo a contribuir com a melhoria de indicadores do envelhecimento ativo, para avaliar a eficácia da iniciativa, foi realizada a pesquisa intitulada “Aspectos avaliativos de um programa de extensão educacional para a maturidade”, que demonstrou impacto positivo no bem-estar dos participantes, mudanças de comportamento quanto a cidadania, ao empoderamento e no desenvolvimento humano e social e, ainda, elevado grau de satisfação de seus participantes quanto à seus eixos norteadores. A pesquisa apontou também a necessidade de aprimoramento de métodos avaliativos que sejam desenvolvidos considerando medidas específicas para os problemas expostos, além da necessidade de melhor interlocução entre os projetos desenvolvidos no âmbito da ação. Atualmente, os estudos avançam para se verificar a validade social e o impacto da educação na saúde dos participantes, com resultados parciais que indicam melhorias no tratamento de depressão, entre outros aspectos.
Após formados, os educadores político sociais em gerontologia, egressos do programa, fundaram o Instituto de Educação e Envelhecimento Humano (IEEH), uma associação voltada para promoção de iniciativas em prol do envelhecimento digno e ativo e da manutenção da autonomia na velhice. Os idosos colaboradores participam de todo processo administrativo e estratégico da instituição, além de serem primaciais na organização de eventos científicos de âmbito internacional como o Congresso Internacional de Tecnologia e Inovação em Gerontologia (CITIG), o Seminário Internacional do Envelhecimento e o Seminário Fronteiras do Envelhecer. O idosos participam ainda ativamente das pesquisas desenvolvidas, de feiras culturais locais e na manutenção do Programa UniSER/UnB.
A educação enquanto estratégia para enfretamento dos desafios do envelhecimento versa sobre o protagonismo do velho em sua própria velhice e a priorização de sua autonomia no processo de decisão, enfatizando a capacidade do ser de contribuir socialmente e aprender ao longo de toda a vida. Aprender continuadamente torna-se, portanto, uma via de emancipação da invisibilidade e vulnerabilidade social, além de desenvolver o empoderamento de uma faixa etária comumente excluída simplesmente por seguir o ciclo da vida e envelhecer.
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