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Pesquisa: Neurociência ajuda a explicar polarização no Brasil

No esforço em compreender a polarização política que domina o país – fenômeno também presente em boa parte do mundo, os pesquisadores Diego Cortezzi Pedras e Margarete Schmidt, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), se debruçaram sobre a divisão entre os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Jair Bolsonaro. Eles recorreram à neurociência para investigar como o cérebro humano processa informações políticas e como emoções intensas influenciam a tomada de decisões.

O estudo contou com 200 voluntários e, após exclusões, 36 participaram de experimento, que abordou três momentos: monitoramento da atividade cerebral, por eletroencefalograma e tempo de reação em testes de perguntas e respostas, com imagens de Lula e Bolsonaro. Segundo o estudo, as reações mais emocionais foram mais intensas nos eleitores do ex-presidente.

Segundo os pesquisadores Cortezzi Pedras e Schmidt, a polarização não ocorre apenas devido a diferenças ideológicas, mas também por mecanismos cerebrais que reforçam vieses e, principalmente, emoções. O estudo identificou uma relação de “amor e ódio”, marcadas por profundas cargas afetivas e possibilidade de comprometimento da capacidade crítica e de discernimento do indivíduo.

A pesquisa também deu visibilidade ao fenômeno do viés de confirmação, que contribui para compreender a polarização atual ao indicar que, quando uma pessoa se depara com informações que confirmam suas crenças, áreas do cérebro relacionadas ao prazer e recompensa são ativadas. Em contrapartida, quando confrontada com dados que contradizem suas convicções, partes do cérebro ligadas ao estresse e ao desconforto entram em ação, muitas vezes levando ao descarte automático dessas informações.

Esse efeito pode ser observado na maneira como os debates políticos se desenvolvem: argumentos racionais frequentemente são rejeitados, enquanto sentimentos de pertencimento e lealdade a um grupo se tornam predominantes. Esse fenômeno é amplificado pelo viés de confirmação, um processo pelo qual indivíduos buscam e aceitam seletivamente informações que reforcem suas visões, ignorando ou desacreditando aquelas que as desafiem.

A pesquisa também sugere que redes sociais desempenham um papel significativo nesse ciclo. Algoritmos que priorizam conteúdo que gera engajamento frequentemente acabam fortalecendo bolhas ideológicas, criando ambientes onde pessoas apenas interagem com visões similares às suas. Esse isolamento informacional contribui para uma polarização ainda mais acentuada.

Os cientistas esperam que esse tipo de estudo possa abrir caminhos para promover debates mais equilibrados e saudáveis. A conscientização sobre o funcionamento do cérebro pode ser um primeiro passo para ajudar as pessoas a refletirem sobre suas reações e melhorarem a qualidade das discussões políticas. Com isso, talvez seja possível construir um ambiente em que a troca de ideias ocorra de maneira mais aberta e respeitosa.

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